*Por Carlos Santiago
É muito raro encontrar pessoa que dá amor, que pratica bondade e que luta por causas coletivas. Mas existe, existe sim.
Há cerca de oito meses, em um sábado, eu estava podando minhas plantas e carregando terra para adubá-las, não vestia nada além de uma camiseta sem mangas e uma bermuda antiga, até sem a cor original do tecido. No meio do trabalho, deu fome, já se passava do meio dia, lavei as mãos, calcei umas sandálias muito menor que os meus pés, era uma relíquia deixada pela ex-mulher, e fui procurar um lugar próximo de casa para comer. Confesso que estava um pouco sujo.
Avistei o restaurante Paraíba&Pernambuco, e entrei, olhei as variedades de comidas expostas numa mesa grande e sentei num cantinho, queria primeiro tomar água. Aguardei o funcionário para dizer do meu desejo de tomar o líquido antes de almoçar. Logo, percebi que tinha uma senhora loura, numa mesa ao lado, com sorriso cativante e seios grandes, loucos para sair daquela roupa sensual.
E ela não parava de olhar pra mim. Ficava sorrindo na minha direção. Pensei comigo: será que encontrei um grande amor, um amor demasiadamente humano, pois nunca me encantei com a vida de Santo, sempre achei chata e sem encanto.
A loura levantou-se e veio em minha direção. Em pé ela era mais linda do que minha imaginação pode alcançar. Chegou...pegou nas minhas mãos e com carinho disse:
“Senhor, não fique chateado, mas pedi um peixe grande e não consegui comer tudo, o senhor pode tomar a coca-cola que também está pela metade, pode ficar com tudo, assim o senhor não precisa pedir comida de ninguém.”
Claro que depois daquelas palavras a minha autoestima chegou a zero e fiquei com vontade de dizer alguma coisa impublicável.
Mas logo, a “ficha caiu” e me dei conta de que tinha encontrado uma pessoa rara, muito mais belo o seu gesto do que a sua presença física. Assim como as inúmeras pessoas, no país e no mundo, que se dedicam a dar comida aos moradores de rua e pobres. A ajudar doentes crônicos em hospitais ou em abrigos, crianças portadoras de alguma deficiência, mulheres vítimas de agressões, idosos abandonados e outros. É um exército invisível e sem remuneração, milhares de voluntários que dão amor ao próximo e aos excluídos do nosso modelo de vida social.
Pois bem, agradeci e aceitei a metade do peixe, a coca-cola não aceitei porque tenho açúcar demais no meu sangue e, lembrei-me da minha origem pobre, e dos momentos em que até o dinheiro para pagar o vestibular da Ufam, que passei, foi uma doação, além de ter recebido roupas e comida tão necessárias em fases difíceis da família.
Depois retornei para o meu jardim, que tanto me faz bem, com a convicção de que posso cuidar também de pessoas que precisam, além da minha amada família.
*Sociólogo e advogado