O LIVRO PESADO!

* Edclei Estevam de Vasconcelos 

 

O carteiro já havia percorrido mais da metade de sua área de trabalho, subindo e descendo as ruas de um conjunto da cidade. Por causa disso, ficou cansado, até porque, nesse meio tempo, choveu muito. No entanto, ele é guerreiro, quer atingir seu objetivo, é brasileiro, carrega a bandeira do Brasil em sua blusa e não desiste nunca!

 

Ao chegar em frente de uma casa, colocou as correspondências sob sua responsabilidade, na caixinha do correio. A maioria coube na caixa, mas um livro, que era um pouco grosso e volumoso, não conseguia passar pela caixa de correio.

 

Para não trazê-lo de volta, até porque o livro era pesado, ele pensou em jogar por cima da parede. Mas, como o muro da casa era um pouco alto, lembrou que podia quebrar alguma coisa na casa do cliente.

 

Apertou a campainha... e nada. Apertou novamente... e nada. Como ninguém aparecia, ele resolveu dar o tradicional e barulhento Grito de Guerra:

 

-- COOOORREEEIOS! COOORREEEIOS!

 

Esperou um pouco e gritou novamente:

 

-- COOOOOOORREEEIOS!COOOOOOOORREEEIOS!

 

O carteiro já estava ficando chateado e desanimado, até porque o peso do livro era de praticamente um quilo, – e quanto mais tempo ele o carregava, mais pesado ele ficava. Como não queria voltar com a encomenda, resolveu gritar, já mordido, pela última vez:

 

-- COOORRRRRREEEEIOSSSS!!

 

Desta vez alguém escuta o grito e diz:

 

-- “Já estou indo, seu carteiro. Aguarde só um pouco!”

 

Era a senhora responsável por tomar conta da casa. Ela chega até a porta da casa e pergunta para o carteiro:

 

-- É pra assinar, seu carteiro?!

 

Ele responde:Não, senhora.

 

Ela diz: Então coloque na caixinha!

 

O carteiro balança a cabeça para um lado e para outro, respira fundo, solta o ar e responde novamente: Não dá minha senhora É  um livro e o bicho é pesado e grosso!!!

 

Ela responde: Grosso?? Faça o seguinte: pode jogar por cima do muro.

 

Ele diz: Posso mesmo?!

 

-- Ela responde: Pode sim, fique tranqüilo, manda o livro!!

 

Ele responde: Tudo bem, então. Vou contar até três: um, dois, três, e lá vai!?

 

Ele arremessou o livro e esperou um pouco para saber se a senhora que cuidava da casa conseguira pega r o livro.

 

Mas, para sua surpresa, logo em seguida ela responde: senhor carteiro, jogue logo o livro!

 

Ele fica desconfiado, e responde: eu já joguei! Não caiu aí não?!

 

Ela responde: Não!

 

Ele diz a ela: Então espere um pouco, que eu vou verificar onde o livro está, ok?

 

Ela diz: Tudo bem.

 

O carteiro puxa a bainha da calça, quase rasga o fundo da calça, sobe o muro da casa e avista a senhora. Enxerga o livro em cima do telhado da casa e diz o fato para a cliente: Senhora me desculpe, eu joguei o livro com muita força e o espaço entre o muro e o telhado da casa é muito curto, o livro foi parar uns dois metros do telhado da casa. Mas se a senhora quiser eu vou lá buscar o livro. A senhora quer que eu vá buscar?

 

Ela pergunta: Senhor carteiro, como  é que é esse tal livro?

 

Ele responde: É aquele livro grosso que os senadores, lá de Brasília, mandam para as pessoas.

 

Ela responde: E quem é que está mandando esse livro, seu carteiro!?

 

É o senador #@$%&*. Em seguida, ele pergunta: A senhora quer que eu pegue o livro?

 

Ela dispara: “NÃO!!! Deixa essa porcaria desse livro lá em cima mesmo!! Esse senador é um FDP. Tem um monte desses livros aqui e o patrão nem gosta de os ler. É só dinheiro público jogado fora!”

 

O carteiro então responde: desculpe o transtorno minha senhora, mas esse é o meu trabalho.

 

Ela diz: eu é que peço desculpas, seu carteiro. O senhor não tem nada a ver com isso.

 

Ele responde: tudo bem senhora, mas nós temos o dever de atender bem e da melhor maneira possível os nossos clientes. Faz parte do nosso trabalho. A senhora entende, não é?

 

Entendo seu carteiro, o senhor está trabalhando. Exatamente o que esses senadores lá de Brasília deveriam estar fazendo...