Cobrança, sim, mas, com respeito!
Sabemos que as cobranças nos ambientes de trabalho pelo cumprimento de metas dos empregados, a fim de se atingir os objetivos e a sustentabilidade financeira das empresas, são “compreensíveis e necessárias”, desde que respeitando as limitações físicas e psíquicas individuais de cada um, a Constituição Federal, a CLT, os acordos coletivos, as condições dignas e humanas de trabalho, entre outros. Até porque se não existisse a empresa, obviamente, também não existiriam os seus empregados. Se não trabalharmos, como garantiríamos o sustento de nossas famílias? Por nossa família, todo o esforço e dedicação pela sua sobrevivência vale a pena.
O amigo carteiro estava como de costume, entregando as correspondências sob sua responsabilidade em algumas ruas de um Bairro da Cidade de Manaus, que, assim como outros, tinha problemas em relação ao tráfico de drogas. Área vermelha.
Ele observa um veículo da polícia passar tranquilamente pela rua, algo que era rotineiro. Os policiais, ao passar pelo carteiro ainda o cumprimentam: “Está tudo bem aí, senhor carteiro?”
- Em seguida ele responde: “Sem problemas, tudo beleza, tranquilo!”
Ao terminar as entregas naquele trecho da rua principal, ele dobra à sua direita e em seguida entra num beco sem saída.
Lá, ele começa a colocar as correspondências nas caixinhas de correios das residências, entregando algumas diretamente nas mãos dos moradores que esperavam suas cartas e não possuíam caixas de correio para correspondências.
Quando estava chegando bem no meio do beco, dois meliantes saem correndo na direção do carteiro com suas armas em punho. De frente para os meliantes o carteiro, com algumas cartas na mão, começa a ficar nervoso, fica sem reação, vira a cabeça para direita e para esquerda e em seguida olha para trás. Nesse mesmo instante, dois policiais também correm na direção dos meliantes e começa um tiroteio entre os policiais e os meliantes.
Os moradores saem correndo, fecham as portas e as janelas de suas casas. Os policiais começam a gritar: “SAÍ DAÍ, CARTEIRO!! TE ABAIXA, PORRA!! SAÍ DA FRENTE, CARTEIRO!!”
O carteiro, agoniado, joga as cartas que estavam em sua mão para cima e corre com a bolsa para debaixo do assoalho de uma das casas, que era de madeira, para se proteger. Ele fica com a cabeça abaixada e pensa: E agora? Tenho que entregar essas correspondências, se não o meu chefe vai me encher a paciência e eu não gosto disso, não suporto ser chamado à atenção pelo não cumprimento do serviço!”
Vinham tiros dos dois lados. Os policiais acertam um dos meliantes na perna e em seguida o outro resolve se entregar. Eles mandam os meliantes largar a arma e se entregar, um deles deita bem em cima das cartas dos moradores do beco.
Com a situação já mais calma e sob controle, o carteiro chega até ao meliante e ao policial e diz: “Éhh... com licença, senhores? Por favor senhor policial, não me leve a mal, mas será que você poderia levantar esse cidadão aí? É que ele está bem em cima das correspondências dos moradores do beco.
O jovem meliante olha para o carteiro e diz: “Ei. Tio! Tudo bem com o senhor, seu carteiro? O senhor me faz um favor aí? Vê se tem alguma carta pra mim da minha mãe aí, seu carteiro?”
O carteiro respira fundo, pega as cartas e pergunta ao meliante: onde o senhor mora? Qual o número da sua casa? ─ Eu moro bem ali logo, na casa 25, foi a resposta.
O carteiro olha todas as cartas e diz para o cidadão que não havia nenhuma para o n° 25. Mesmo com o outro meliante gritando de dor no chão, o policial diz para o carteiro: Senhor carteiro, com todo respeito pelo seu reconhecido trabalho, o senhor é louco!? Como é que o senhor fica bem na frente dos tiros!?
O carteiro respira fundo novamente, balança a cabeça e responde para o policial: Eu, louco!? Louco fica o meu chefe quando a gente não consegue entregar todas as correspondências e encomendas para garantir a satisfação dos clientes, tendo de correr riscos de ataques de cachorros, assaltos e sequestros quase que todos os dias pela sobrevivência de nossas famílias, como vocês também!
O policial balança a cabeça e começa a rir. Em seguida diz: Tá certo, senhor carteiro, é verdade. Mas não esquenta com as cartas desse cidadão aqui não... Quando as cartas dele chegarem, o senhor manda lá para o novo endereço dele.
Por fim, o carteiro desabafa. “Eu, hein... Que Deus nos proteja sempre. Por nossas famílias, a gente passa por cada uma...”
Singela Homenagem ao amigo Paulo Roberto (Batatinha do CDD Adrianópolis)
Edclei Vasconcelos