Caindo na realidade
Quando entrei nesta empresa, me deparei com algumas infelizes situações a que todos nós estamos sujeitos, como o pensamento sempre negativo de alguns, o desânimo, falta de condições reais e mais humanas de trabalho e, principalmente, o risco iminente de assaltos, além de trabalhar com pessoas que só pensam em se dar bem. Agindo a todo momento de má-fé para com os nossos clientes, colegas de trabalho, a empresa, sem pensar nas consequências futuras que isso pode nos causar.
Lembro que tempos atrás, eu trabalhava no CDD ADRIANÓPOLIS. Tinha uma área muito grande e quantidades superiores ao tempo e capacidade que se dispunha para realizar todas as entregas de GU´S (grande usuário) em condomínios, shoppings, entre outros.
Em alguns casos, sempre precisava ir até a agência dos CORREIOS do terminal rodoviário para deixar um DA (depósito auxiliar).
Em dois momentos, cheguei a encontrar um antigo colega de trabalho que, inclusive, me ensinou a rota que aprendera nos primeiros anos de trabalho na empresa em um distrito convencional (bolsa).
Aparentemente, um colega normal. Muito divertido, brincalhão, que tinha o apelido – se não me engano - de chuta-lata.
Ele dizia em muitas ocasiões que a empresa era muito boa para se trabalhar, mas que pagava pouco e o que nos salvava eram o ticket alimentação, a assistência médica, a segurança e estabilidade no emprego para garantir o sustento de nossas famílias e chegar, quem sabe, a tão sonhada aposentadoria.
Com o passar dos tempos, esse ex-colega de trabalho passou a agir de maneira errônea e a envolver-se em situações ilegais e antiéticas. Sendo investigado pela área responsável por averiguar e punir legalmente pessoas que agem de má-fé contra a ética, os objetivos e a missão da empresa em relação ao serviço postal brasileiro. Logo após, foi demitido por justa causa (JC).
Quando novamente cheguei à agência dos correios da rodoviária – num certo dia -, lá estava ele. Carregava consigo uma pequena bolsa com alguns CD´S (piratas), oferecendo-os, vendendo-os aos clientes que ali se encontravam. Chegou até a mim e logo em seguida perguntou-me:
“E AÍ, FAÍSCA? Como é que tá os Correios?”
Disse a ele:
Tá indo... E você? O que aconteceu? Você sumiu? Pediu a conta?
Meio sem graça e sem jeito, ele responde:
“Não, Faíscão! Não! Fui demitido... Mas tudo bem, eu não gostava mais de trabalhar nos Correios. Sei que errei e estava querendo sair fora mesmo!”
Em seguida eu perguntei a ele:
E com esse seu trabalho, dá para tirar uma boa renda?
Ele responde:
“Às vezes eu vendo pouco, mas tá dando pra sobreviver...”
Digo a ele:
Tá certo então, mas me dê licença que eu preciso continuar o meu trabalho...
No mesmo instante ele me pergunta:
“FAÍSCA? Dá pra levar algum, pra me ajudar?”
Digo a ele:
“Não gosto muito de comprar CD´S piratas, porém, deixe-me ver uns dois de dance aí.”
Ele se animou dizendo:
“Valeu! Brigadão, Faíscão!”
Em seguida me despedi e fui embora. Passado aquela semana, retornei novamente à agência da rodoviária. E lá estava o meu ex-colega de trabalho chuta-lata, vendendo os seus CD´S, oferecendo para os seus possíveis clientes. E ao me encontrar, perguntou:
“E aí, Faísca, meu amigão? Vai levar algum CD pra ajudar seu amigo, hoje?”
Eu olho para ele e respondo:
- Hoje não vai dar não, estou meio quebrado financeiramente.
Em seguida ele responde:
“Quebrado!? Que é isso! Você trabalha é nos Correios! Ganha um bom salário e tem benefícios que não atrasam. O Correio tá rico, tem muito dinheiro!”
Na ocasião respondo a ele:
A empres os Correios pode até estar rica. Os funcionários não estão tão mal, mas também não estão tão bem assim, não!
Entretanto, meio cabisbaixo ele desabafa.
[...] “É, Faísca... eu me arrependo da besteira que fiz. Os Correios não é tão ruim assim. Paga um salário razoável, sempre em dia, tem ticket, assistência médica, segurança, possibilidade de chegar na sua aposentadoria, entre outras coisas. Mas, fazer o quê? Eu falhei e agora estou pagando o preço pelo meu erro. Ah! se eu pudesse voltar no tempo...”
Logo após, finaliza:
“Meu amigo, você é que tá certo, Faísca. Continue assim. Trabalhe direito, se afaste dessas pessoas que agem de má-fé, com más intenções. Você é um cara legal, vou nessa... preciso trabalhar e ganhar o sustento de minha família, pensar no meu filho. Valeu, FAÍSCÃO!”
Virou-se... E foi embora.
Edclei Estevam de Vasconcelos (FAÍSCA).