Vovó Cacilda costuma dizer que "o ouro arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar"
Vovó Cacilda costuma dizer que "o ouro arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar"
Por Warnoldo Maia de Freitas
A prática do garimpo nos rios da Amazônia e do Amazonas é ilegal e todo mundo sabe. Mas, pelo visto, ninguém está muito interessado em cumprir as leis ambientais e as reportagens exibidas com mais frequência nos últimos dias confirmam o que todos também já sabiam: Por essas bandas quem tem dinheiro faz o que quer sem ser incomodado.
As imagens exibidas pelas reportagens das televisões, mostrando em cores a atuação de centenas de balsas no rio Madeira, na chamada região do Rosarinho, no município de Autazes, no Amazonas, sem temer possíveis ações do poder público, evidenciam a confiança na impunidade, garantida, talvez, pelo chamado "vil metal", que costuma "desvirtuar as almas de muita gente boa.
A prática escancarada do garimpo nos rios da Amazônia é uma pratica antiga e quem costuma viajar de avião para o interior do Amazonas, com certeza já viu dezenas de balsas atuando, livremente, em pontos mais distantes da capital, Manaus. Mas, nunca se tinha visto, antes, uma ação tão "arrojada" quanto essa, com centenas de garimpeiros atuando, tranquilamente, praticamente na porta da capital do Estado, distante aproximadamente 130 quilômetros de Manaus.
Vovó Cacilda costuma dizer, lembrando William Shakespeare, que "o ouro arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar e arranca o travesseiro de onde repousa a cabeça dos íntegros".
Tomando por base os argumentos de William ela também destaca que "...basta uma porção dele (ouro) para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; e do covarde, valente".
"É preciso acabar com essa prática de grandes discursos das autoridades e ações ineficazes, colocadas em prática só para inglês ver", afirma, visivelmente indignada. "Será que a Amazônia é mesmo uma terra de ninguém? É a terra dos aproveitadores"", indaga.
Ela também aponta a necessidade de as autoridades competentes adotarem medidas eficazes "para acabar com essa bandalheira toda", e critica a prática do conhecido "olhar de paisagem", adotado por quem deveria fiscalizar e combater atos criminosos, diante da prática de outras irregularidades praticadas por essas bandas como, por exemplo, a exploração irregular de madeira.
"Anos após ano, o que nós mais ouvimos e acompanhamos são reportagens exibidas nas televisões denunciando o desmatamento de áreas do tamanho de centenas de campos de futebol. Mas, apesar dos milhares de discursos apresentados rotineiramente nas televisões, nada muda", lembra.
Quer dizer, tudo fica apenas nas denúncias, porque o poder público pouco faz e a população parece estar acostumada a essas ações, colocadas em prática por grupos comandados por pessoas poderosas que têm a certeza de que suas condutas criminosas, na sua grande maioria, continuarão impunes e as suas contas bancárias cada vez mais cheias e alimentadas pelo "vil metal".
Vovó Cacilda acredita que essa turma está acostumada, mesmo, com a prática de atuar ao arrepio da lei, praticando ações condenáveis de atentado contra os bens da Nação, porque têm certeza de que, apesar de muita gente falar, das televisões denunciarem, nada impede seus contínuos ganhos milionários, porque, o "jeitinho" sempre prevalece.
Vovó Cacilda afirma que há mais de meio século, desde os bancos da escola, tem ouvido dizer que "o Brasil é o país do futuro". Mas, depois de 50 e poucos anos ela se pega perguntando:
"AFINAL, QUE FUTURO É ESSE QUE NÃO CHEGA NUNCA?". "POR QUE TUDO PERMANECE COMO DANTES NO QUARTEL DE ABRANCHES?".