Manaus, 01 de Maio de 2024

A CRIANÇA QUE FOI MARCADA EM SÃO PAULO

Por: Carlos Santiago
24/08/2017 - 19:30

Carlos Santiago

 *Por Carlos Santiago

 
As marcas da exclusão social, da ganância, da intolerância e dos preconceitos que são registrados nos corpos ou na alma, marcam por toda vida e refletem também na incapacidade dos gestores públicos. Por isso, causou-me espanto e até indignação o registro fotográfico de uma criança que teve a mãozinha marcada com caneta para não repetir refeição numa escola pública do município de São Paulo.
 
A imagem, absurda, lembrou-me da escravidão negra no Brasil, em que os proprietários de escravos “timbravam” os corpos dos negros como se fossem gados, com uma total desumanidade, com preconceito e muita ganância. Os nazistas também “carimbavam” os corpos dos povos denominados por eles como sendo de raças inferiores, antes de os laçarem à morte com requinte de desumanidade, preconceito e ganância. Até Jesus Cristo, filho de Deus, não escapou dos chicotes e dos pregos nas mãos, como um reforço da ganância do preconceito e do poder dos colonizadores romanos.
 
Os “carimbos” e as “timbragens” também são verbais e atingem a alma. É costumeira a referência sempre depreciativa ao trabalhador negro, ao papel da mulher no mercado de trabalho, ao indivíduo fora do padrão tradicional das questões de gênero, ao aluno da escola pública, a determinada profissão e até a origem familiar ou bairro de moradia. São expressões verbais que têm o objetivo de atingir a dignidade da pessoa humana.
 
Aquela criança da escola pública de São Paulo, até pela sua idade, ainda não sabe do tamanho dos preconceitos dos brasileiros, da ganância dos fornecedores de merenda escolar, da péssima gestão pública e do “vale tudo” usado pelos políticos para alcançar e se manterem no poder, mas ela já sentiu no corpo a marca que reflete tudo isso.
 
 
Sociólogo e Advogado
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