Por Carlos Santiago*
Quem somos nós? Há muitas perguntas, existem inúmeras respostas, mas ainda têm vazios enormes sem explicações. Entender o povo brasileiro e os brasis não é fácil. São desafios de gerações de estudiosos, de combinações de várias ciências e de saberes populares, além da contribuição dos credos religiosos e da filosofia.
Sociólogos expõem o encontro de povos e das diversidades culturais na origem do povo brasileiro; historiadores narram a expansão do comércio, do poder da monarquia e do clero como a gênese da existência do Brasil; os economistas afirmam que o país é fruto da ambição colonial do modelo agrário-exportador, uma união do comerciante e do reino português.
Antropólogos entendem o Brasil como espaço dos diferentes, das diversidades, das tribos urbanas e das tribos das florestas, com centenas de línguas expressas por povos indígenas, mas também com regionalismos que definem ainda os valores sociais do país. Somos a união de cada povo e de cada região.
Brasil é declarado pelo seu povo como um dos países mais cristão do mundo. Já foi ilha de Vera Cruz, terra de Santa Cruz. Tem uma santa como padroeira e é cantado e festeja como pátria de Deus. No dito popular, Deus é brasileiro. Sua liberdade religiosa está gravada constitucionalmente.
Alguns cientistas políticos acreditam que o Poder Político do Brasil é controlado por estamentos e por interesses privados refletidos nas decisões políticas, nas desigualdades sociais e econômicas, nas organizações partidárias no elitismo que sempre prima por privilégios.
O especialista sobre o Brasil, o italiano Domenico De Masi, acredita que o Brasil tem uma civilização única, uma civilização do futuro, movida pelo respeito às diferenças, pelas manifestações culturais, paz e tolerância religiosa, com acolhimento ao próximo. Um modelo de civilização avançado, capaz de eleger um presidente intelectual, um presidente que foi operário e uma mulher.
Todos os entendimentos e esforços que buscam debater os brasis e as manifestações do seu povo são válidos, independentemente de a compreensão ser romântica, ufanista, crítica ou conservadora. Algumas delas foram registradas em livros, teses acadêmicas e, inclusive, na Internet.
No entanto, o Brasil continua sendo uma fonte inesgotável de fenômenos sociais (todos eles conhecidos) a serem compreendidos e interpretados, tais como: os preconceitos contra negros, indígenas e habitantes de determinadas regiões; a violência contra a mulher; muita intolerância e muito ódio na sociedade; muita riqueza e também muita pobreza; milhares de mortes no trânsito; corrupção sistêmica; e muita vocação para o autoritarismo.
Cenas no cotidiano de mortes, de indigência e de miséria, de corrupção, de preconceitos, de política com ódio, de maldades e de cinismo de governantes, parecem que se naturalizaram.
Na sua tese de doutorado, o jornalista português Carlos Fino defendeu que o Brasil despreza as suas origens lusitanas, ou as trata com zombaria, depreciação e vergonha. Embora bastante coerente e sedutora, essa tese é questionada por intelectuais brasileiros.
É de notório conhecimento, todavia, que uma parcela da população brasileira despreza o passado lusitano, a importância dos negros e dos indígenas para a construção cultural e para a riqueza do país. Ora, quando uma parcela do povo brasileiro nega suas raízes, então fica sempre a pergunta: quem somos nós?
Sociólogo, Analista Político e Advogado.